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COOPERATIVISMO, UM MODELO DE NEGÓCIOS LEGAL E EFICIENTE

Presidente da Organização das Cooperativas no RN, Eduardo Gatto de Azevedo Cabral, explica como é o funcionamento da entidade, suas missões e também as vantagens do cooperativismo para as prefeituras

Empreender no Brasil é algo extremamente desafiador. E ainda mais quando quem tenta criar seu próprio negócio faz isso sozinho. Há, no entanto, um modelo de negócios que oferece a possibilidade de tornar essa jornada menos solitária: o cooperativismo.

No Rio Grande do Norte, assim como em outros estados brasileiros, existe um sistema especializado em orientar quem deseja fundar uma cooperativa, defender e representar as já existentes, além de promover a formação de profissionais que atuam no setor.

O Sistema Ocern é formado por dois pilares: a Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Norte (Ocern) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Rio Grande do Norte (Sescoop/RN), algo semelhante ao que existe no comércio, com a Federação do Comércio do RM (Fecomércio-RN); e na indústria, com a Federação das Indústrias do RN (FIERN).

O primeiro cuida de representar as cooperativas, “promovendo o fomento e defesa do sistema cooperativista do RN, em todas as instâncias políticas e institucionais”. Já o segundo “prioriza o desenvolvimento das pessoas e dos negócios para fortalecer o cooperativismo”, com foco na capacitação, formação profissional e educação cooperativista, entre outros.

O presidente do Sistema Ocern é o advogado Eduardo Gatto de Azevedo Cabral, que começou na entidade em 2008, como estagiário da assessoria jurídica e agora, em 2024, assumiu a gestão da entidade. Ele explica que, a exemplo do RN, existem organizações do tipo em todo o país e que todas são vinculadas à Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). Por sua vez, há também um Sescoop nacional.

Eduardo Gatto de Azevedo Cabral

“Não tem a figura de patrão na cooperativa. Todos são sócios, todos são donos. Você inclusive pode ter um custo menor. Tudo que entra é rateado para os sócios Então, você tem condições de customizar um preço mais acessível e aquela renda é local. O dinheiro fica aqui”

No Rio Grande do Norte, a Organização existe há 61 anos e atende atualmente cerca de 100 cooperativas, que possuem ao todo mais de 3 mil cooperados. No estado, há cerca de 70 municípios que contam com o trabalho das cooperativas de alguma forma, seja como fornecedores ou como prestadoras de serviço.

De acordo com os cálculos da Ocern, as cooperativas no RN movimentam o equivalente a 6% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Norte foi de R$ 80,18 bilhões. Em 2022, houve um crescimento de 4,1%, elevando o PIB para aproximadamente R$ 83,47 bilhões.

Para 2024, as projeções variam: o Banco do Brasil estima um crescimento de 4,4%, enquanto o Santander projeta 1,6%. Considerando a estimativa mais conservadora de 1,6%, o PIB em 2024 seria de aproximadamente R$ 86,12 bilhões.

Com base nessas informações, é possível calcular que a participação das cooperativas na economia do RN gira em torno de R$ 5 bilhões. O desafio é ampliar esses números e chegar à casa dos dois dígitos. “46% do PIB do Paraná é oriundo do faturamento das cooperativas. E a gente tem que chegar perto disso”, diz o presidente da Ocern.

Eduardo Gatto diz que a entidade tem missões e uma delas é manter o registro das cooperativas. Ele explica que qualquer cooperativa, para poder funcionar (isso é uma imposição também legal), precisa ter seu registro na organização do seu estado. “Então você cria a cooperativa e, após o registro na Junta Comercial, é obrigatório por lei fazer o registro na organização estadual. No caso, no Rio Grande do Norte, na Ocern”, informa.

Além desse cadastro, a Organização tem também a missão de representar toda a cadeia produtiva do cooperativismo, como fazem as federações. “Temos interlocuções permanentes com poder público, Executivo, Legislativo e Judiciário. Cada um dentro da sua esfera de atuação, a gente faz o fomento para que esses entes possam fomentar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento das nossas cadeias produtivas”, afirma.

É da Ocern também o dever de apresentar às iniciativas privada e pública o modelo cooperativista para que conheçam e possam contratar as cooperativas e, com isso, obter os benefícios que esse modelo de negócio pode gerar. “A gente mostra a vantagem econômica para quem está contratando, que é mais barato contratar com cooperativa. Isso aí, sem sombra de dúvida, se botar no papel, os números não mentem”, afirma Eduardo Gatto.


Ele complementa explicando que a Ocern também demonstra a legalidade de se contratar uma cooperativa, assunto sobre o qual ainda há muito desconhecimento. “A gente desmistifica essas situações para o mercado, para que eles entendam que é legal e é vantajoso”, diz.

O presidente da Ocern destaca que essas vantagens são resultado de uma característica que é um dos principais pilares do modelo cooperativista: “Não tem a figura de patrão na cooperativa, todos são sócios, todos são donos. Você inclusive pode ter um custo menor. Tudo que entra é rateado para os sócios. Então, você tem condições de customizar um preço mais acessível e aquela renda é local. O dinheiro fica aqui”, detalha.

E dá como exemplo o caso do Sicredi no Rio Grande do Norte, que é uma cooperativa de crédito e distribuiu aos seus associados cerca de R$ 40 milhões de sobras este ano, beneficiando cerca de 20 mil pessoas. “Esse lucro, se estivesse no banco convencional, ia para os acionistas, que a gente não sabe onde estão. Nesse caso aí, esse dinheiro foi redistribuído na economia local e, consequentemente, reinvestido aqui no próprio Estado. Então, tem esse poder muito forte, as cooperativas, de você fomentar a economia local”, defende.

Eduardo Gatto lembra ainda que a Ocern também atua na defesa das cooperativas junto aos políticos que representam os estados. Recentemente, cada organização nos estados ficou responsável por conversar com deputados e senadores acerca da Reforma Tributária para que o texto final não trouxesse prejuízos ao setor.

“O cooperativismo é um modelo de negócio. As pessoas se juntam para empreender, para ganhar dinheiro via cooperativa. O cooperativismo tem toda uma preocupação social, porque está no seu DNA. É uma sociedade de pessoas, não de capital”

Outra conquista resultado do trabalho da Ocern foi a redução de tarifa que era cobrada pela Junta Comercial. Antes, o valor era de R$ 985. “A gente conseguiu, através de mostrar essa política de inserção das cooperativas no mercado, mostrando que é um modelo econômico diferente do modelo tradicional. Caiu para R$ 385. Ou seja, a gente teve uma redução de quase 70% no valor. Isso é a política institucional da Ocern, mostrando e sensibilizando o conselho da Junta Comercial acerca da importância de ter um valor diferenciado das cooperativas”, conta.

FORMAÇÃO

O outro braço de atuação da Ocern foca em formação de pessoal, principalmente. O Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Rio Grande do Norte (Sescoop/RN) — explica Eduardo Gatto — trabalha em três eixos principais: formação, monitoramento e a promoção social.

O primeiro inclui palestras, oficinas, pós-graduações e cursos técnicos, entre outros. “Por exemplo, nas cooperativas médicas, eu tenho duas pós-graduações agora abertas, com a Unimed, que é em Auditoria Médica e em Gestão de Unidades Hospitalares. Então, aí, como a gente não pode certificar de forma direta, a gente só pode certificar até curso técnico, a gente fez uma parceria com a Faculdade Unimed, contratamos e estão sendo ministradas essas duas pós-graduações”, explica.

Ao todo, somente em 2024, já passaram pelos cursos do Sescoop mais de 1.200 pessoas, o que representa atendimento de aproximadamente 100 cooperativas. “A meta é atingir todo o ano pelo menos 90% dessas 103 que estão já assistidas. Então, a gente todo ano trabalha, tem algum trabalho feito com pelo menos 90% dessas 103”, informa o presidente.

Na área de monitoramento, o Sescoop-RN atua por meio de consultorias, fazendo a ponte entre empresas e entes que precisam de algum serviço. “Nós temos um edital de credenciamento com mais de 100 áreas de atuação. Então, a gente atua em todas as áreas da cooperativa. A cooperativa precisou de desenvolver qualquer produto novo, precisou fazer uma atualização com a gestão. A gente abre o edital de credenciamento, igual ao SEBRAE”, informa.

Esses editais são abertos o ano inteiro e qualquer entidade no Brasil pode entrar e se credenciar para prestar serviço ao Sescoop. “Na verdade, vão prestar serviço para as cooperativas por meio do Serviço. A gente credencia as pessoas jurídicas. Qualquer profissional”, observa.

Por fim, a promoção social: o Serviço realiza eventos e participação de campanhas que são voltados para os que fazem parte da Ocern e também para o público geral. E especificamente todo 1º sábado de julho é promovido um grande evento aberto à comunidade, onde são disponibilizados uma série de serviços (atendimento clínico, atendimento odontológico, aulas de educação financeira, emissão de identidade, entre outros). O evento ocorre nesta data porque é quando se comemora o Dia Internacional do Cooperativismo, cuja celebração completou 100 anos em 2024.


“O COOPERATIVISMO É LEGAL. ELE TRAZ ECONOMICIDADE E EFICIÊNCIA”

A Ocern também atua no sentido de ajudar na construção de novas cooperativas. Para isso, a entidade está sempre de portas abertas a receber pessoas que veem no cooperativismo uma oportunidade de desenvolver melhor suas atividades profissionais.

Um exemplo que Eduardo Gatto dá é de uma pessoa que quer fundar uma cooperativa, mas não sabe por onde começar. O primeiro passo é verificar se aquela ideia é realmente compatível com o modelo de negócio cooperativista, que tem suas singularidades. “Com exceção das cooperativas de trabalho, que podem ser constituídas por sete pessoas, a cooperativa convencional tem que ter 20 sócios para fundar”, informa.

Passada essa fase e confirmada a possibilidade, a organização ajuda em tudo. “A gente faz o plano de viabilidade econômica do negócio, para ver se o negócio dele tem viabilidade. A gente faz a palestra de sensibilização, que é mostrando o que é o cooperativismo, mostrando quais são as obrigações, os deveres, para aquele grupo inteiro, se realmente eles querem seguir nesse modelo”, detalha.

Após tudo isso, as cooperativas começam a atuar e a conviver com as peculiaridades dessa forma de empreender, lutando pela obtenção de resultados. Na visão de Eduardo Gatto, o maior desafio para todos é conseguir fazer com que a sociedade entenda corretamente o que é o cooperativismo.

“Eu digo aos prefeitos que o cooperativismo é um modelo de negócio exitoso, que pode trazer segurança jurídica para o município”

“É mostrar para a sociedade que o cooperativismo, ele é legal, ele traz economicidade e eficiência. O maior desafio é nos tornar mais conhecidos para que a gente tenha a condição de que as pessoas acessem os serviços e os produtos fornecidos ou prestados por nossas cooperativas", afirma.

Segundo ele, uma vez que o ente contrata a cooperativa, a tendência é manter este contrato por muitos anos. Isso porque o bom serviço é responsabilidade de todos que fazem a cooperativa, assim como seus ganhos. Quanto melhor for o trabalho, mais chances de ampliar, gerar mais renda e emprego.

“A cooperativa é de todo mundo. Então, é diferente de uma empresa que, às vezes, a pessoa não quer mais, fecha a empresa se o filho não quiser dar continuidade ou, eventualmente, ele vende. A cooperativa não. Ela é perene. Ela não acaba nunca. Enquanto estiver dando certo, vai saindo pessoas entrando outras e a gestão vai se modificando e vai continuando", ressalta.

Para os futuros prefeitos que vão assumir em janeiro e também os que se reelegeram, mas ainda não contam nas suas administrações com cooperativas, Eduardo Gatto sugere que eles procurem se inteirar quanto a essa opção e as vantagens que poderão obter para seus municípios por meio da contratação desses grupos de trabalho. E que confiem no modelo cooperativista.

“O cooperativismo é um modelo de negócio. As pessoas se juntam para empreender, para ganhar dinheiro via cooperativa. O cooperativismo tem toda uma preocupação social, porque está no seu DNA. É uma sociedade de pessoas, não de capital", afirma.

E acrescenta: “É um regime democrático, mas é um negócio. Um negócio diferente, mas é um negócio e tem que dar resultado. Eu digo aos prefeitos que o cooperativismo é um modelo de negócio exitoso, que pode trazer segurança jurídica para o município, pode trazer uma vantajosidade econômica na contratação e uma eficiência na prestação de serviços."